Em defesa de um cinema para todos
Nicolau Breyner estreou-se na realização com James Bond à portuguesa
Contrariando as obras lamentáveis que têm surgido em nome do cinema pretensamente popular, “Contrato” não envergonha ninguém. É a primeira longa-metragem de Nicolau Breyner como realizador.
Não tem sido pacífica a fase de transição que se vive há algum tempo no cinema português. Trata-se de assimilar que não é possível a nenhuma cinematografia ter apenas um cinema de autor, sem pensar num registo mais acessível a todos e que possa ir ganhando público para apostas mais sofisticadas e arrojadas.
Têm surgido algumas obras verdadeiramente lamentáveis, em nome de um cinema pretensamente popular, mas que o público tem sabido “chumbar” nas suas pretensões. Não se referem aqui títulos, mas toda a gente saberá do que estamos a falar. Nesse bolo, alguns têm querido colocar também “Contrato”, de Nicolau Breyner, o que é uma manifesta injustiça, em função das suas várias qualidades.
O filme não será inovador. Nem terá representado o nosso país em nenhum daqueles grandes festivais em que se vai jogando o presente e o futuro do cinema enquanto forma de expressão. Mas também não envergonhará ninguém, muito pelo contrário.
Nicolau Breyner, que enquanto actor se tem tornado uma espécie de Al Pacino à portuguesa, representando de tudo um pouco com a mesma credibilidade, tem atrás de si uma larga experiência na realização, no pequeno ecrã. E é, ninguém duvidará, um homem de bom gosto. Assim como o eram as duas personalidades a quem o filme é dedicado, infelizmente desaparecidas pouco antes da estreia: Dinis Machado, autor da história original, e Pedro Bandeira Freire, que a verteu para argumento cinematográfico.
“Contrato” surge como uma espécie de James Bond à portuguesa, bem ritmado e sem grandes concessões. O que não se deve confundir com o gosto e o prazer em valorizar o que tem de bom nos seus valores de produção, nomeadamente os actores e actrizes do filme.
Nesse sentido, Pedro Lima é uma surpresa, colando muito bem a sua tradicional falta de expressividade com a frieza necessária à composição da personagem, e Cláudia Vieira aproveita bem a experiência como modelo para se sentir à vontade com a exposição do seu corpo. Além disso, o filme tem nos secundários alguma da nata da representação, como Vítor Norte, José Wallenstein, Adelaide João e o próprio Nicolau Breyner.
Todas as cinematografias sabem promover os seus trabalhos. Não devemos nós ter vergonha de o fazer, através do mais aliciante que eles têm e dando ao espectador a vontade de os ir ver. Não há nenhum realizador que não goste que os seus filmes sejam vistos por um grande número de espectadores. Na sua passagem pelos cinemas, “Contrato” deu a ideia de ter ficado aquém das expectativas. Espera-se que seja agora visto por mais gente, nesta sua segunda vida. Ao contrário de outros, o filme merece-o.
Fonte: Jornal de Notícias
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